Cheguei a Nova Iorque numa quarta-feira ao meio-dia. Na quinta, conheci a Catherine. Falámos sobre os nossos respectivos divórcios enquanto eu bebia uma cerveja e ela, um copo de vinho. Depois de quatro horas à conversa, ela perguntou-me se eu tinha planos para domingo: queria experimentar LSD, que nunca consumira, no apartamento de uma amiga onde estava temporariamente a viver, em Village. Convidava-me a partilhar uma dose com ela. Aceitei.
Além disso, nesse primeiro dia, um editor que conheci convidou-me a participar na leitura dramatizada de uma farsa teatral, durante o lançamento de uma revista. Também aceitei. O meu método era dizer que sim a tudo, avançar sem medo, permitir que fosse a própria cidade a marcar-me o passo. Nova Iorque exige uma entrega sem contemplações. Era melhor cavalgá-la a deixar-se pisar por ela.
No domingo, apanhei o metro em Queens, onde estava a ficar em casa de uma prima, até Village. Como cheguei cedo demais, meti-me na mítica livraria The Strand e estive a folhear livros velhos durante algum tempo. Pouco antes das quatro da tarde, atravessei a Broadway e percorri a East 11th, seguindo a numeração ascendente, até que uma voz vinda das alturas me fez parar. Era a Catherine, sentada nas escadas de incêndio de um prédio antigo.
O apartamento era de uma beleza inquietante. Tectos altos e abobadados, estantes brancas encastradas, cortinas de pesado veludo, brinquedos antigos. Vermelhos e verdes com pormenores prateados e pátina. Parecia o décor de um filme do Almodóvar, se o Almodóvar fizesse um filme em Nova Iorque.
Catherine deu-me um abraço, ofereceu-me metade do LSD e levou-me até às escadas de incêndio, onde se viam duas cadeiras de praia e uma mesinha. Conversámos aí durante uma hora, depois deitámo-nos no chão do apartamento, ao lado das grandes janelas, banhados pela luz do final do Verão. Conversámos muito.
Por volta das sete, fomos dar um passeio. Demos as mãos enquanto caminhávamos, como se flutuássemos na direcção do rio, e a Catherine disse: «Neste momento, somos o par mais insuportável de Manhattan.» Sentámo-nos diante do Hudson e eu pensei noutras cidades com rio que, de uma forma ou de outra, marcaram a minha vida: Madrid e o seu triste Manzanares, Buenos Aires e o seu Rio da Prata, o Mapocho de Santiago e o Ródano de Genebra.
Nessa noite, fiquei a dormir no apartamento da amiga da Catherine na East 11th e, na manhã seguinte, já sem os efeitos da droga, dei-me conta de que estava apaixonado.
Toda a gente nos avisa de que Nova Iorque é uma cidade estranha, que pode destruir as nossas ambições e cuspir-nos como um caroço, mas também seduzir-nos, reter-nos e mudar completamente a nossa vida.
Os nove meses que passaria na cidade transformaram-se em dois anos, talvez mais. Regressei várias vezes àquele apartamento, para jantar e beber martínis com estranhos de todas as idades e profissões. E seiscentos e trinta e seis dias depois do nosso primeiro encontro lisérgico, Catherine e eu casámo-nos ali mesmo, no apartamento da East 11th, lendo os nossos votos em duas línguas diante de amigos e familiares.
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